Marcelo Xavier
Difícil precisar em que ponto da vida a arte gruda na gente e não solta mais. Em mim, desconfio ter sido na minha infância em Vitória com a descoberta da fantasia, da imaginação, da criação possíveis, ali, ao alcance da mão.
O habitat dessa arte-criança não poderia ser melhor: uma rua sem carros, uma turma de amigos, repertório diverso de brincadeiras, uma imensa catedral em construção, um porto e seus navios, um bonde a me levar ao colégio, ao piano, ao mar. Modelando bonecos de barro, inventando casa mal-assombrada, desenhando já pressentia a arte-brinquedo a me enredar.
Nas férias de julho e dezembro em Ipanema, cidade de Minas em que nasci e saí aos cinco anos, sentia que a arte estava lá grudada provocando: desenha, colore, modela… Eu obedecia, com muito prazer. No trem que me trouxe de mudança para Belo Horizonte, a arte-adolescente veio na bagagem. Com ela pintei muros, toquei violão, modelei os Beatles em massinha, descobri a noite, registrei sentimentos e pensamentos novos com palavras verdes. Certo dia acordei cabeludo, de barba e bigode. Eram os anos 1970.
A arte-adulta estava lá, dividindo cama e sonhos comigo. A essa altura, mandava e desmandava em mim. Entrou em minha cabeça, mudou tudo de lugar, varreu velhos conceitos e preconceitos, aumentou o alcance dos sentidos, me fez mergulhar de corpo e alma no mar do mundo. Como um guia, me indicava caminhos da criação.
Fiz cenários, figurinos, adereços para teatro, shows musicais, carnaval, livros infantis e adultos, programas de tv, vídeos, intervenções urbanas, exposições e oficinas para crianças e adultos. Há vinte anos, a arte-minha teve que abrir mão de parte do seu domínio. Esclerose lateral amiotrófica é o nome da nova inquilina. Chegou mudando muita coisa também: trocou passos por rodas, reduziu mobilidade e acessos, impôs limitações físicas. Porém, a arte-madura nunca me deixaria, entregaria os pontos por condições adversas do corpo.
Sua força vital se preserva no que chamamos alma. É ali onde ela resiste, grudada, como sempre, até a chegada do ponto final.
Livros e prêmios nos últimos 10 anos
2010 – Meu Amigo mais Antigo – Livro altamente recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – 2011.[23]
2011 – Tempo Todo – poesias selecionadas.
2013 – A cara da rua – reunião de 31 crônicas publicadas entre junho de 2012 e agosto de 2013 no jornal Hoje em Dia. Cada texto é acompanhado de uma ilustração inédita.
2015 – A Estranha – Vivências do autor com a cadeira de rodas, companheira desde 2009.
2015 – Apática – “Apática é uma cidade perdida no tempo e no espaço, situada depois do longe mais longe, fora do alcance da mão do mundo. A época é qualquer uma; para seus moradores não importam as horas, os dias ou os anos, absoluta é a indiferença das pessoas do lugar. Lá ninguém sorri ou chora. Não há jardins ou árvores nas ruas, mas há um hotel – o único destaque da cidade. Eis que um forasteiro, de cabelos grisalhos, barba e bigode castanhos e aparência saudável de um jovem viajante, chega para hospedar-se no hotel, trazendo consigo uma mala. Não é uma mala qualquer; ela se destaca na luz do sol, despertando no porteiro do hotel uma terrível curiosidade. Como um sentimento assim nunca lhe ocorrera antes, o porteiro acredita que dentro dela há algo especial. E de fato há. Há uma magia, que faz acordar os sentimentos que os apáticos não sabem o que é sentir”.
2017 – Um lugar cheio de ninguém – é o 21º livro de Marcelo Xavier, o 16º voltado para as crianças. Depois de 7 anos, MX volta ao universo infantil explorando as aventuras de um garoto por um cenário onírico de uma cidade sem pessoas.
2003 – Se Criança Governasse o Mundo – Livro altamente recomendável para crianças pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – 2003; selecionado para o PNLD-SP/2004; selecionado para o Salão Capixaba – ES/2005; selecionado pela Fundação Luis Eduardo Magalhães e pela prefeitura de Belo Horizonte.[21] Foi o primeiro livro da Editora Saraiva a receber uma versão como aplicativo para iPad.
2004 – Três Formigas Amigas –
2006 – TOT – Livro altamente recomendável para crianças pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – 2006.[22] Relançando em versão com CD de áudio em agosto de 2015.
2008 – Andarilhos – Apenas texto. Ilustração: Alfeu Barbosa.
2009 – Caderno de Desenhos – registros retirados das gavetas.
Principais prêmios
Prêmio Jabuti – 2001
2000 - Melhor Livro Informativo
1997 - Prêmio Adolfo Aizen
1996 - Prêmio de Melhor livro de Imagem pela Associação Brasileira de Escritores
1994 - Prêmio Jabuti Melhor Ilustrador
1990 - Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte)
1987 - Prêmio Luís Jardim - O melhor livro de imagens
